segunda-feira, 7 de maio de 2018

Leitura Crítica da Mídia: Textos sobre o incêndio do prédio no Largo do Paissandu (SP)

São Paulo 01/05/2018 Foto Paulo Pinto/FotosPublicas


Sugestão de textos sobre o incêndio no edifício Wilton Paes de Almeida localizado no Largo do Paissandu, centro de São Paulo, no dia 1º de maio de 2018


Matemática - Luis Fernando Verissimo


O presidente Abraham Lincoln escolheu o general Ulysses S. Grant para liderar as forças do Norte na Guerra Civil americana porque Grant, segundo Lincoln, não tinha medo da matemática.
Além de ser um reconhecido estrategista, Grant não hesitava em ordenar ataques frontais ao inimigo sabendo que a contagem de baixas seria horrorosa. A tétrica aritmética da Guerra Civil americana só seria superada pela da Grande Guerra de 1914, quando milhares de vidas podiam ser sacrificadas num só dia por nada – como na batalha do Somme, em que 50 mil soldados ingleses morreram avançando contra fogo alemão sem que um metro de terreno fosse conquistado. Na verdade, mais de três milhões de seres humanos foram sacrificados nos três anos da Primeira Guerra Mundial sem que a frente de batalha se movesse, para um lado ou para o outro, mais de algumas milhas. Nos dois lados havia generais dispostos a enfrentar a aritmética. Durante três anos, generais, governantes, políticos, intelectuais, imprensa e povo dos dois lados conviveram, patrioticamente, com a aritmética. Justificando-a ou – o mais cômodo, pelo menos para quem não estava numa trincheira – ignorando-a.

A Guerra de 14 foi um exemplo extremo de estupidez militar e civil e até hoje historiadores discutem as causas reais de tamanha insensatez coletiva. Mas ela teve seus justificadores. Era a Europa liberal resistindo ao militarismo alemão. A Guerra Civil americana também tinha tido, pelo menos na superfície, a justificativa nobre da abolição da escravatura. A aritmética do terror aéreo que a Alemanha lançou na outra grande guerra, a Segundona, depois de ensaiá-lo na Espanha, teve por trás o sonho pan-germânico de Hitler, que só virou coisa de louco porque ele perdeu. A aritmética dos campos de extermínio nazistas era justificada pela purificação da raça ariana. A aritmética dos bombardeios gratuitos de Dresden e de Hiroshima e Nagasaki se justificava como castigo para quem tinha começado a guerra. A aritmética dos gulags e dos expurgos stalinistas se justificava pelo ideal comunista. A aritmética do terrorista suicida palestino se justifica por uma causa, a aritmética da represália israelense se justifica por outra. E há tantas maneiras de ignorar a aritmética como há de defendê-la, ou exaltá-la como uma virtude militar, como Lincoln fez com Grant.

No Brasil convivemos com a desigualdade e com um exército de excluídos que não são menos vítimas de um descaso histórico por serem um genocídio distraído, com o qual nos acostumamos. Mas a matemática do descaso histórico nos bate na cara todos os dias.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Como o país do auxílio-moradia tem moral para expulsar pobres de ocupações?


Leonardo Sakamoto 





--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


A política habitacional da prefeitura e do governo do Estado, hoje, produz ocupações


Raquel Rolnik


Leia em https://raquelrolnik.wordpress.com/2018/05/07/a-politica-habitacional-da-prefeitura-e-do-governo-do-estado-hoje-produz-ocupacoes/


Casas sem gente, gente sem casa: entendendo o problema, pensando soluções


Raquel Rolnik




--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

A jornada de uma boliviana, do trabalho escravo à ocupação em São Paulo


Leandro Machado
Da BBC Brasil em São Paulo



--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

OBSERVATÓRIO DE REMOÇÕES
Mais famílias sem teto a cada remoção: conheça o novo mapa das remoções e ameaças 2017/2018